Marina Tavares Dias, Olisipografia

38 anos de criatividade pessoal ao serviço do colectivo, na defesa de LISBOA

terça-feira

«CHATEAR O CAMÕES»

 Marina Tavares Dias em «Lisboa Misteriosa»:

Colocada entre a cidade tradicionalmente mais cosmopolita (o Chiado) e a o seu contrapeso popular (o Bairro Alto), a Praça Luís de Camões veio ocupar uma zona outrora povoada pelos restos do Palácio Marialva, vulgarmente chamados «Casebres do Loreto». Destas ruínas se podem hoje ver alguns vestígios, em fotografias tomadas quando da construção do parque de estacionamento que agora ocupa o subsolo do largo. Ora como zona «fronteiriça» da boémia, acontecia muitas vezes irem os janotas da Casa Havaneza para ali conversar, dando mais ou menos de caras com os bêbados oriundos das tascas do Bairro Alto. Parece que havia muita gente a candidatar-se a interlocutor de Camões que, lá do alto, permanecia imune a todas as provocações. O que não evita que ainda hoje se diga, quando queremos que alguém se cale: «Vai chatear o Camões!» Ou seja, vai falar em voz alta à estátua do dito. O mesmo que «falar para o boneco», está de ver.

(Continua no livro)