OS QUADROS D'A BRASILEIRA
Marina Tavares Dias em «Os Cafés de Lisboa»:
As telas da Brasileira do Chiado, representativas duma
geração artística cujas opções estéticas estavam ainda longe de ser
consensuais, provocaram enorme celeuma
entre os académicos e o público mais conservador, transformando a Brasileira do
Chiado em assunto de primeira página nos jornais do tempo. Lisboa, como sempre
sequiosa de uma boa polémica, seguiu o tema com enorme interesse. António
Soares foi o primeiros dos pintores convidados, delineando um esquema para a
distribuição das telas pelas paredes e convidando imediatamente Eduardo Viana,
que com ele concordou. Depois, recrutaram juntos os outros artistas: Almada
Negreiros (2 quadros), Jorge Barradas(2), Stuart (1), Bernardo Marques (1) e
José Pacheko (1).
António Soares e Eduardo Viana, então considerados os
principais pintores daquela jovem geração (Almada Negreiros era ainda conhecido
apenas como desenhador), receberam seis contos por quadro. As restantes obras
foram pagas a quatro cada uma. Permaneceram nas paredes durante 45 anos,
acumulando pó, fumo de cigarros e humidade de café. De vez em quando eram
limpas com potassa*. Em 1968 estavam praticamente irreconhecíveis, tendo os
jornais então alertado para o perigo de se perderem totalmente, caso não viessem
a ser socorridas dentro de pouco tempo. Silva Pinto, da nova gerência,
reconhecia não possuir A Brasileira meios para recuperar os quadros, cujo valor
subira, entretanto, muito acima do que alguma vez fora esperado.
